A bolsa era vermelha, assim como as bochechas. Essas eram grandes e envergonhadas, assim como seus olhos, que sempre cerravam ao ver conhecidos acenando para ela. Marieta era bem tímida sim e não se envergonhava disso. Usava botas marrons e camisas longas e listradas de vermelho e branco. Alguém disse um dia que ela parecia com o Wally, e que sempre a acharia em qualquer multidão.
Assim seguia seus dias: tímidos como seus olhos. Até chegar aquele minuto que a fez mudar. Perdera suas botas no seu trabalho. Já que cultivava o hábito de ficar descalça enquanto trabalhava, deixava suas botas ao lado de sua mesa, até o final do expediente. Aquelas botas marrons eram o grande mimo de sua vida. A partir daquele momento, Marieta desavergonhou-se grandiosamente em gesto do mesmo tamanho: gritou e se esbaldou, como se aquele grito estivesse esperando para ser solto a muito tempo. "Quem diabos surrupiou minhas botas?", dizia a desesperada Marieta.
E nunca mais as viu por perto. Apesar de sempre achar que as via nos pés dos transeuntes de São Paulo.
Malditos.
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