quarta-feira, 1 de junho de 2011

E

a saudade é um verme.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Botas Marrons

A bolsa era vermelha, assim como as bochechas. Essas eram grandes e envergonhadas, assim como seus olhos, que sempre cerravam ao ver conhecidos acenando para ela. Marieta era bem tímida sim e não se envergonhava disso. Usava botas marrons e camisas longas e listradas de vermelho e branco. Alguém disse um dia que ela parecia com o Wally, e que sempre a acharia em qualquer multidão.

Assim seguia seus dias: tímidos como seus olhos. Até chegar aquele minuto que a fez mudar. Perdera suas botas no seu trabalho. Já que cultivava o hábito de ficar descalça enquanto trabalhava, deixava suas botas ao lado de sua mesa, até o final do expediente. Aquelas botas marrons eram o grande mimo de sua vida. A partir daquele momento, Marieta desavergonhou-se grandiosamente em gesto do mesmo tamanho: gritou e se esbaldou, como se aquele grito estivesse esperando para ser solto a muito tempo. "Quem diabos surrupiou minhas botas?", dizia a desesperada Marieta.

E nunca mais as viu por perto. Apesar de sempre achar que as via nos pés dos transeuntes de São Paulo.

Malditos.

sábado, 21 de maio de 2011

18 de maio de 2011

Este foi o dia dos figurinos. Cada um apresentou o figurino que estava produzindo. Como eu ainda não tinha terminado o meu, fiquei apenas a olhar e a opinar. Não foram muitos os que apresentaram seu figurino nesse dia. Dos poucos que me lembro: Verônica, Cléber, Anízdete, Renan, Érica, Lorena.

Foi interessante esse dia porque pudemos dar dicas sobreos figurinos e recebê-las também. Cheguei lá com uma idéia e saí com outra. Acho que agora já sei o que produzir.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

11 de maio de 2011.

Os trabalhos já chegaram no nível de ensaio. Cada um apresentou sua cena que era feita de movimentos que significavam algo internamente nosso. Movimentos esses que eram como retratos, recortes de momentos muito marcantes em nossa vida. Toda essa movimentação é ressignificada pela poesia que é dita ao mesmo tempo. O que se representa é a particularidade de cada ator, com as máscaras de outra representação: da poesia de Manoel de Barros. O que o público vai perceber vira um enigma, pois várias opções vão estar à sua disposição.
As apresentações foram feitas ontem. A minha apresentação não estava lá muito segura. Fico nervosa nos momentos que não devo ficar. Porém sinto um problema nesse trabalho: não sinto tudo o que deveria sentir. Meus momentos são muito importantes sim, mas é como se já tivesse conseguido superá-los, de certa forma. Acho que o problema é que já tenho que me enxergar de outra forma. Às vezes tenho medo disso.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sobre Sucatas

De Manoel de Barros.

Isto porque a gente foi criada em lugar onde não tinha brinquedo fabricado. Isso porque a gente havia que fabricar os nosso próprios brinquedos. Eram boizinhos de osso, bolas de meia, automóveis de lata. Também a gente fazia de conta que sapo era boi de cela e viajava de sapo. Outra era ouvir nas conchas as origens do mundo.

Estranhei muito quando, mais tarde, precisei de morar na cidade. Na cidade, um dia, contei a minha mãe que vira na praça um homem sentado num cavalo de pedra a apontar uma faca comprida pro alto. Minha mãe me corrigiu que não era uma faca, era uma espada. E que o homem era um herói da nossa história. Claro que eu não tinha educação de cidade pra entender que um homem sentado num cavalo de pedra era herói. Eram pessoas antigas da história que um dia salvaram a nossa Pátria. Pra mim aqueles homens em cima da pedra não passavam de sucata. Eram a grande sucata da história. Porque eu achava que uma vez no vento esses homens seriam como trastes, como pedaços de camisa ao vento. Lembrava dos espantalhos vestindo as minhas camisas. O mundo era um pedaço complicado para um menino que viera da roça.

Não vi nenhuma coisa mais bonita na cidade do que um passarinho. Vi que tudo que o homem fabrica vira sucata: automóvel, avião, televisão. E o que não vira sucata é árvore, rã, pedra. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso que até uma garça branca de brejo é mais bonita que uma nave espacial. Peço desculpas por cometer essa verdade.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Retificando



Quarta-feira, 13 de abril de 2011.

O dia dos objetos importantes, das falas de nós mesmos, de sentirmos cada sensação e cada história de cada um. O dia foi cheio de sentimentos. O olhar de um, a risada contida de outro, o choro disfarçado em contraponto ao choro desesperado. Choros, risos, olhares perdidos. Perdidos em vários momentos na particularidade de cada um. Particularidade essa que nos foi compartilhada e que também compartilhamos.

Várias histórias lindas e construtoras de cada um ali presente. Histórias que de um indivíduo se tornaram coletivas.

O momento não podia deixar de ser tenso. Não tenso no sentido literal da palavra, mas na idéia de espera, expectativa. O olhar do outro cruzava com o nosso, misturando dizeres e pensamentos dos mais diversos. Entrávamos na vida do outro por alguns valiosos segundos. Era uma confidencialidade múltipla sem promessas ou juras pré-ditas.

Meus objetos no dia: um dos meus sete diários completos, a camisa do IAGP assinada, meu short favorito que uso desde os meus 7 anos de idade e meu cordão com os dois anéis de pingente.