terça-feira, 29 de junho de 2010

Movimentos do coração

O tempo se faz tão pequeno quando comparado a tudo que se deve fazer. Tão pequeno, que não tive o bendito tempo para sentar e escrever. Tecer palavras sobre a performance do sábado, dia 19 de junho, nas salas 05 e 04 da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), às 17h. Foi uma hora de performances nas duas salas. Os que utilizaram algo como seu "teto" instalaram-se na sala 05 e os que não utilizaram, dirigiram-se para a 04.
Muitas performances diferentes, só o que eu digo. Uns gritavam, outros dançavam, cantavam, poetizavam (se é que existe essa palavra - sou fanática em inventar palavras novas) e muitas outras coisas. Do que me lembro, das imagens que vêm mais fortemente à minha cabeça, posso citar a Rose cantarolando alguma música, enquanto colocava os pés com meias arrastão em um balde com água. Achei lindo, me tocou. Principalmente a música.
Lembro dos gritos do Maurício "ela piscou pra mim!", da personificação do Ramón em algum velho característico, da Adhara cantando João e Maria, do Chico Buarque, do Leandro em sua lixeira-piscina e de alguma voz gritante dizer "eu sou um psicopata!".
Fora tudo isso, a palavra que reúne tudo que senti na hora da performance foi "pirar". Pirei de diversas formas, numa energia só. No começo de tudo, segui um esquema-roteiro que tinha preparado para o dia, mas depois foram chegando acréscimos e acréscimos e mais movimentos do coração. Tanto que, quando a Wlad avisou o término de tudo, me senti chegando de um outro lugar que não aquele.
Na verdade, acho que era isso. Saí de um lugar a outro, me permiti essa transição nos movimentos do coração.

domingo, 13 de junho de 2010

Que?

Passagens. Pensamentos soltos, devaneios.

É isso e mais um turbilhão de coisas, elementos.

Deixo pra depois.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Minha pequena Eva

Saí da sala e senti tanta energia. Energia fluindo e só. Os gritos, o "telemarketing". A Eva queria ser Lady Gaga.

"Polishop, boa tarde.
Você gostaria de conhecer o nosso mais novo produto, a câmera Tecpix?
Ela tem 10 megapixels e filma, e grava e faz de tudo que você imaginar. Aproveite nossa promoção: são apenas 9 pequenas parcelas, minha querida. / Gostaria de nos repassar o seu contato para confirmarmos? / Ok, a Polishop agradece!"

Sobrancelhas cerradas. Piscadas lentas, bem lentas, demonstrando contida impaciência. Olhar de ódio e gestos contidos. Mexe nos cabelos, gostaria de dar um soco. Responde. Responde com eficiência raivosa. Queria ser atriz.

Estalar de dedos, respiração forte. Boca e músculos contraídos.

Eva me lembra sentido e porque. A busca de um fato qualquer que mude completamente o rumo da sua vida. Um sonho qualquer. Um sonho qualquer não, mas apenas um. Um específico. Queria tanto.

Logo me lembro da batalha bruta contra a rotina enlouquecedora, que tira a vontade e sentido de algumas vidas. Também me veio à mente o conto "O Corpo", de Clarice Lispector. As duas protagonistas procuram loucamente um fator que as leve à loucura e à uma realização pessoal que se torna grande meta.

Eva me lembra música.

Esse é o teste. O teste dos porquês.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Deslocamento

O que é arte? Alguém sabe me dizer o que é ou o que pode ser arte?

"Quando há um deslocamento de seu lugar de origem, de seu significado original, algo pode ser chamado de arte. Como um artista visual fez com metade de uma embalagem de queijo cuia recheada de farinha d'água e com cinco colheres de aço".

Depende de cada um. O poder de decidir, definir ou escolher o que pode ser arte está em cada um.

Expositor: Dadinho
Mediador: Phillipe
Texto: Lúcia Santaella

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Retratando

Cavalo Branco

Entrei na sala esperando mais um dia que me mexesse, me revirasse por dentro de minhas emoções, devaneios. Era o dia do seminário sobre o texto Jogar, Representar de Jean-Pierre Ryngaert, e quem explicava era o Maurício, com ajuda do Ramón.

Quando penso em jogo teatral logo penso em Viola Spolin, que também foi citada pela Wlad. Só lembro da Viola porque tive um tipo de quase-seminário sobre ela no Em Cores. Admito que não sou lá muito inteirada nas partes teóricas do teatro porque me aprofundei mais nas práticas mesmo. Mas enfim, gosto muito do que tô me aprofundando agora.

Depois do intervalo, a parte prática começou. Continuamos com o jogo da contação de histórias, em duplas. Histórias pessoais, contando algo "espetacular", como disse o Maurício. E como eu disse em outra aula, acho essa prática muito forte. Emocionalmente forte. Passei a denominar as aulas de segunda como aulas-terapia porque sempre saio de lá com alguma reflexão forte sobre algo importante pra mim, e isso me faz bem.

Enquanto chegava a minha vez, o Maurício contava sua história. História essa que mexeu muito comigo e me fez lembrar de coisas fortes que tinham acontecido. Quase que contei essa história na minha vez, mas quando eu e Ramón fomos à frente, pedi pra que ele começasse pra que eu pudesse me recompor. A história era triste demais pra ser relembrada.

Enquanto o Ramón contava sobre seu avô, eu percebia que estava em algum tipo de transe muito interno, algo que me deixava meio tonta. Então chegou a minha vez e contei a história da minha avó, seu marido prefeito-de-Rio-Tinto e o curió. Contei como minha vó conheceu meu avô, marinheiro, e veio morar em Belém. Contei dos vários filhos e da única filha, minha tia que faleceu de câncer de pele. O ápice de tudo foi que, no alto de meus 5 anos, em visita no hospital, minha tia me disse no leito de morte: "Cuida bem do teu pai, que ele é o cavalo branco que vai salvar toda a família".

A Wlad indagou que essa fala poderia ser uma metáfora, assim como o curió também poderia ter sido. Depois de tudo, a Adhara me lembrou do sonho do Romario em que eu era levada embora por um cavalo branco. Aí pronto, foi o susto mesmo. O que seria tudo isso? Algum dia eu vou saber o que isso significa, de verdade?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Trololó

Oi, meu nome é Jocasta. Guardo no meu baú todas as lembranças jogadas ao vento. Temos todas as cores que possa interessar: Azul-céu, amarelo-mijo, amarelo-ouro, vermelho-sangue, rosa-espinhos, verde-floresta, laranja-victor hugo, prata-diamante, preto-computador lcd, e cinza-multiuso. Porque o multi-uso? Ora, por ser multi-uso ele serve de tudo. Está aí o porque de seu preço ser meio salgado. Hohoho, não me venha com risinhos. Eu ainda digo "salgado", é assim que minha bisavó ainda comenta os preços de minhas lingeries. Anh.. não entremos em detalhes, né moço?

Falava de lembranças. Eu já tive algumas, sabe? Quando não me prendia em qualidades fúteis. Depois que guardei em mim essas tranqueiras todas, resolvi fazer uso de cada uma. Por isso agora eu guardo todas essas tais lembranças que foram jogadas ao vento. Essas que ninguém dá valor, mas que pra alguns faz uma faaaalta. Isso mesmo, alguns passam a vida inteira atrás de uma simples rosa-espinhos e nunca consegue. Talvez, quem sabe, só diz que vai atrás mas nunca foi, né.


Bom, também trabalhamos com rendas e quitutes de toda a parte. Tenho trololó, guardanapos, e infinitudes só. Também crio nomes pras coisas, acho tão bonito. Tem uns nomes feios pra dedéu, sempre quis mudar. Porque não chamar esse doce de trololó? É lindo e musical. De "dedéu" eu gosto, acho bom.


Ando por essas ruas estranhas e escrotas e só posso pensar em uma coisa: que merda, que grande e enorme merda. Nem sei porque to falando, ô moço. Não, não vai embora, compra um multi-uso, vai? É o mais caro, mas sai em conta, pode ter certeza. Bom, me dê licença que vou dançar um Corumbá ali com meu Efésio. Não quero mais saber de lembrança nenhuma. Quer saber? Jogo no vento também, e que se foda a gasolina.

Objetificando

Porque coloca-se tanta importância em certos objetos que, aos olhos de outros, não possuem o mínimo valor? Esse significado que damos à algumas coisas provém da mistura de memória, lembrança e afeto. Memórias de momentos, fases, épocas da vida ficam marcadas em pequenas coisas como um cordão, uma pedra, algum tipo de amuleto. Lembranças fortes, engraçadas ou apenas de sorte.

Enquanto o Renan fazia a exposição do tema, várias coisas vinham à tona na minha memória, como o assalto em que tudo o que mais me preocupava era o meu cordão, que foi presente da minha madrinha nos meus 15 anos. Também tinha um anel como pingente, símbolo de amizade com meu melhor amigo.

(continuar)

Aula: Segunda-feira, 26/04/2010

Seminário: Renan /Mediação: Adhara

Sentindo sentidos

O seminário vem sendo feito a cada segunda feira, trazendo à tona inflexões e reflexões sobre a vida, sob a ótica dos pequenos-grandes detalhes que às vezes passam despercebidos. Os nossos sentidos, os sentidos humanos. Às vezes se esquece da importância de cada um e como trabalham em conjunto.

Fala-se de cores, cheiros, sensações, memórias, lembranças, apelos visuais. E com cada exposição há um debate no entremeio das aulas e com os debates, várias óticas e pontos de vista definindo cada tema e seus detalhes.

Diria que me acrescentou bastante. Gosto de debates, eles clareiam as dúvidas e fazem nascer novos argumentos a cada minuto. Uma das partes mais importantes.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

não esperado.

Esperar é desesperador?
E como não desesperar-se esperando?
Desespero, espero.
Espero tanto que desespero.

Na espera da espera, o desespero é falta. Falta da espera, da esperança.

Esperando.

Não há como desesperar se a espera da esperança é tão presente.

O que fazer então?
Desespero esperando.

domingo, 4 de abril de 2010

Você

- Tudo bem, boa noite pra você.
- Pra você também. E vê se você não me chama de você.
- Ué, e como vou chamar você?
- Não sei, arruma um jeito. Não gosto que você me chame de você.
- Porque já?
- Acho feio. Parece raiva ou indiscrição. Até mesmo má educação.
- Ora, mas veja você... má educação?
- Isso mesmo. Sempre achei feio conversação que incluísse o 'você'. Parece pouco confiável, sem interação, aproximação.
- E pergunto de novo, como chamo você?
- Me chame pelo meu nome. Ah, não. Prefiro que não. Não gosto do meu nome. Parece raiva, indiscrição.
- Para as patavinas, você e seu você. Haja frescura nesse mundo!
- Não, não diga frescura. Diga manias. Senão parece raiva, indiscrição...
- FRESCURA, FRESCURA, FRESCURA! Você merece é uma cadeira na tua cara, logo após de um tabefe bem dado.
- Não, se eu fosse você não faria isso.
- Porque?

(assobio de um vento)

- Cadê você?

terça-feira, 30 de março de 2010

Dialogando através de imagens.

Queria poder falar da primeira aula da Wlad, mas infelizmente não pude comparecer. Tive que resolver alguns problemas do meu óculos - que ainda está lá na ótica - e acabei perdendo. Muita pena, de verdade. Até porque pensei que a aula de Trajetórias do Ser fosse na terça-feira. Sabe-se lá o porque. Mas uma coisa era verdade: queria demais assistir a aula da Wlad.

Bom, na segunda aula me fiz presente. Já era a apresentação de um seminário sobre Narrativas Enviesadas. Quem esteve à frente foi o Silvano, com mediação da Patrícia.

Assumo que não li o texto. A primeira semana de aula não foi muito grata comigo quanto à questão financeira, então não pude gastar nada. Portanto, não li o texto, mas dei uma pequena folheada na sala mesmo. Entendi o supra-sumo, digamos, do assunto. Só que, como não entrei em detalhes na leitura, acabei sendo óbvia quando citei as artes plásticas na hora do debate. Deixando claro que não tinha lido o texto. É por isso que quando não leio, prefiro nem comentar, de verdade. Vai que deixo escapar uma dessas, não é?

Gostei muito do seminário e não menos do debate. Já tinha explorado bastante o mundo das narrativas enviesadas sem saber. Logo lembrei de quando atuo no espetáculo "Jogo de Sete" da Cia. Em Cores em que a presença da narrativa enviesada se fez óbvia demais.

A Kátia comentou se a pichação entraria também na idéia do nosso tópico. Logo se fez um debate sobre isso e até mesmo na dúvida se seria a pichação ou a grafitagem. Mas a Wlad logo nos lembrou do foco da aula.

Depois do debate, entramos na parte prática. Fizemos um jogo teatral que pedia que nos lembrássemos de uma imagem da nossa infância. Aquela mais antiga. Então, a partir dessa imagem, devíamos demonstrá-la em movimentos e gestos. Movimentos que a Wlad chamou de "movimentos do coração", aqueles que vem pelos nossos instintos e percepções. O desdobrar surgia na hora em que aquele ator que era o dono da imagem de sua infância saía do todo e ia para a platéia. Ele podia observar os outros atores interpretando sua família com gestos fortes. Esse desdobramento, feito pela Wlad, mostrava como aqueles 'movimentos do coração' de cara ator podia remeter à fatos e personalidades da família daquele ator que estava na platéia. Alguns encontraram sentido, outros não.

Na segunda etapa, a Wlad pediu para que duas pessoas tomassem o comando do jogo. O Rafael foi primeiro, e depois foi a vez do Leandro. Na vez do Rafael, começamos a perceber a perda da objetividade do jogo, quando os comandos pareciam sem muito sentido ou motivo. Ele pediu a imagem da infância para o Paulo, e, através dessa imagem, foi encaixando outros atores que representavam quem esta na situação da imagem. Depois, misturou as experiências de cada um, quando tinha quinze anos, para então envolver todas essas experiências em uma só cena: a do carro, que era da imagem da infância do Paulo.

Foi bem confuso, com certeza. Mas eu consegui lembrar de experiências fortes da minha vida, quando observei aquela mescla de experiências. Me senti bem envolvida. Pra mim, foi um exemplo perfeito de narrativa enviesada, já que no debate final da aula, percebi que ninguém tinha entendido nada do jogo.

No segundo jogo no comando do Rafael, fui à frente. Mostrei minha imagem de infância que me remetia ao dia em que minha casa estava em construção, mas quase pronta, então viemos comer pizza onde é o meu quarto hoje em dia. Era uma comemoração, a pré-estréia da casa. Eu tinha 5 anos e andava no meu velocípede da xuxa (haha!).

O comando era o seguinte: dava movimentos à imagem. Os atores representavam os envolvidos na cena, minha família. Depois, ele pediu para que levássemos à cena uma experiência de 5 anos após aquela primeira. Não vi sentido algum, porque, ao meu ver, não teve desdobramento algum.

Na vez do Leandro, o jogo se tornou confuso de verdade.

E então houve o bate-papo final, com as opiniões sobre o jogo. Foram diversas e opostas. Acho que esta parte prática foi fundamental para o entendimento completo das narrativas enviesadas.